Ilustração de jovens pescando e plantando mudas de árvore
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2 milhões de adolescentes e jovens estão em empregos verdes no Brasil, aponta UNICEF

É urgente capacitar adolescentes e jovens para ocuparem vagas sustentáveis e impulsionar a economia verde no Brasil

Brasília, 25 de junho de 2025 - 2 milhões de adolescentes e jovens de 14 a 29 anos atuam em empregos verdes no Brasil, o equivalente a 30% de todos os brasileiros que trabalham nesse setor. É o que aponta o relatório “Habilidades e empregos verdes para adolescentes e jovens no Brasil”, lançado hoje (25) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), por meio da iniciativa 1 Milhão de Oportunidades, em parceria com a Plan Eval. Para fortalecer a participação da juventude no setor, o UNICEF também lançou, hoje, um curso online e gratuito sobre como lidar com a crise climática: acesse aqui. 

O estudo identificou um total de 6, 8 milhões de empregos verdes no Brasil, que correspondem a quase 9 de cada 100 vínculos empregatícios registrados no país. O cálculo ou ocupações que preservam, promovem ou restauram ambientes limpos, saudáveis e sustentáveis, em uma tradução e adaptação para o contexto brasileiro da definição internacional sobre o tema. 

O documento mostra uma oportunidade para que governos e empresas acelerem a transição ecológica, promovam o desenvolvimento socioeconômico e criem oportunidades de inclusão ao investir na formação de profissionais para atuar no setor sustentável. Porém, apesar de esforços crescentes para incluir habilidades verdes na educação profissional, essa oferta ainda é limitada e concentrada em regiões específicas, como os grandes centros urbanos. Isso significa que muitos adolescentes e jovens seguem excluídos de conquistar o conhecimento que os levará a acessar empregos verdes. 

“É preciso educar crianças, adolescentes e jovens para promover e viver uma vida sustentável, e isso inclui a participação na economia verde. Estamos diante de uma oportunidade de incluir de forma sistemática nos currículos educacionais brasileiros a educação ambiental e de expandir a educação profissional, para que a juventude adquira as habilidades profissionais necessárias para conseguir esses empregos e liderar o desenvolvimento sustentável no País”, diz Mônica Pinto, chefe de Educação do UNICEF no Brasil. 

Em um mercado de trabalho com altos níveis de informalidade, como é o caso do Brasil, essa educação precisa ainda integrar treinamentos não formais e validar competências adquiridas na prática ou desenvolvidas por comunidades tradicionais, como os saberes e experiências de povos indígenas, por exemplo. 
 

Empregos verdes 

Além de analisar a quantidade e a distribuição dos empregos verdes no Brasil, a publicação destacou o potencial para inclusão socioprodutiva de adolescentes e jovens que setores como a agroecologia, as cadeias de produção florestal, a gestão de resíduos, a reciclagem, o saneamento e a geração de energias renováveis possuem. 

Segundo o estudo, os empregos verdes atualmente ocupados no país estão dispersos de forma desigual no território brasileiro, com poucos municípios tendo uma alta concentração dessas vagas. As quase 7 milhões de vagas do setor estão principalmente nos grandes centros urbanos: essas cidades reúnem 53% das vagas sustentáveis, apesar de terem só 43% de todos os vínculos empregatícios do Brasil. 

Outro achado foi que mais homens do que mulheres ocupam vagas de empregos verdes. Enquanto trabalhadores do sexo masculino representam 60,5% dessa força de trabalho no Brasil, as mulheres são 39,5%. Na faixa etária de 14 a 29 anos, a desigualdade é um pouco menor, de 56,1% (homens) em comparação a 43,8% (mulheres). 

O estudo também faz uma comparação entre grandes cidades, e identificou Cuiabá (MT), Florianópolis (SC) e Rio Branco (AC) como as capitais que possuem os maiores porcentuais de empregos verdes no Brasil, com cerca de 20% de seus vínculos empregatícios sendo sustentáveis.  
 

Percepções da juventude 

O relatório escutou adolescentes e jovens de diferentes regiões do Brasil para compreender o que pensam sobre sua participação no mercado de empregos verdes. A dificuldade de acessar cursos sobre sustentabilidade e de conseguir empregos formais na área foram os temas mais abordados pelos grupos focais realizados, com a discriminação por raça, gênero ou etnia sendo outro fator que adolescentes e jovens dizem influenciar a entrada e permanência no setor. 

“Está claro que os adolescentes e os jovens querem acessar empregos sustentáveis e dignos, mas têm dificuldade de se capacitar e se candidatar. Isso é ainda pior para aqueles sem experiência, que vivem em cidades pequenas ou em maior situação de vulnerabilidade. Por isso, empresas e governos devem atuar juntos para expandir programas de capacitação, de orientação e mentoria profissional, adotar políticas afirmativas e abrir as portas da economia verde para os jovens”, diz Mônica Pinto. 

A participação de adolescentes e jovens no mercado de trabalho verde é ainda mais relevante considerando que são eles os mais impactados pelos efeitos das mudanças climáticas. “Como são os que mais sofrem com a crise climática, é um princípio de justiça intergeracional que as crianças, adolescentes e jovens se beneficiem das soluções pensadas para essa crise. E parte dessa solução é a participação digna em uma economia de baixo carbono”, afirma Danilo Moura, especialista em Clima e Meio Ambiente no UNICEF.  
 

Recomendações 

Com base na quantidade e distribuição de empregos verdes no Brasil, nas políticas públicas brasileiras de transição ecológica e na escuta de adolescentes e jovens, o UNICEF recomenda que governos e empresas: 

  • Ampliem o acesso à educação e à capacitação profissional voltada para o mercado verde, em especial em regiões interioranas e cidades metropolitanas;
  • Implementem políticas de ações afirmativas nos processos de contratação para jovem aprendiz, estágios e vagas de emprego e nos processos de formação técnica, para aumentar a participação de minorias em ocupações verdes.
  • Ampliem o acesso e subsídio para transporte e mobilidade de adolescentes e jovens de regiões periféricas e municípios de pequeno e médio porte, facilitando o acesso a entrevistas de emprego, capacitações e treinamentos sobre empregabilidade verde;
  • Incentivem a conectividade à Internet para adolescentes e jovens, apoiando o acesso aos processos formativos a distância e facilitando a candidatura a vagas de trabalho;
  • Criem e implementem programas de orientação e aconselhamento profissional para adolescentes e jovens, especialmente em setores sustentáveis. 
     

Acesse o estudo aqui.
 

Sobre os dados 

O cálculo de empregos verdes no país foi feito com dados de 2022 da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), e considerou em especial empregos que promovem a economia circular, adotam processos de baixa emissão de gases do efeito estufa ou operam com rígidos controles ambientais. Isso inclui uma gama de vagas, incluindo – mas não se restringindo a – a reciclagem e reutilização de materiais, o setor de eficiência energética, a geração de energia limpa e setores como saneamento básico. Das 673 classes de trabalho disponíveis no CNAE, 69 foram classificadas como atividades verdes. 

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